quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A direita e seu mar de lama

Mar de lama. Esse sempre foi o recurso usado pelas elites brasileiras para tentar frear os avanços de forças progressistas no país. Em recente conversa com o professor da UFAL, Amundson Portela, ex-militante da Ação Popular – AP, organização que combateu a ditadura militar no Brasil, o uso dessa tática foi relembrada.

As conversas com o professor Amundson são sempre muito ricas. Ele tem uma memória e um conhecimento da História do Brasil invejáveis.

Lembrou que quando do suicido de Getúlio Vargas, o discurso recorrente das elites era o mar de lama. A “grande imprensa” da época ecoava isso aos quatro cantos. Mesmo com todas as contradições de Getúlio, não dá pra não dizer de sua influência no país e sua importância para a conquista de direitos dos trabalhadores até hoje defendidos.

Amundson também lembrou de JK, que como ele mesmo disse, não era lá nada demais, mas tinha uma visão desenvolvimentista, coisa que as elites da época odiavam. Também sobre ele incidiu-se o discurso do mar de lama.

Por conta desse discurso Udenista (UDN – partido político de extrema direita), que já tinha provocado o suicídio de Vargas, turbulências no governo JK, o Brasil acabou elegendo Jânio Quadros ou como disse o professor, “um maluco com uma vassoura na mão”. O uso da vassoura era parte do discurso de Jânio, simbolizava que ele varreria a corrupção do país. À época presidente e vice eram votados separadamente. O vice era João Goulart, que também tinha sido o vice de JK.

Nem Jânio aguentou a pressão das elites conservadoras e renunciou. Anos mais tarde, confessou que o fizera na expectativa que o povo o reconduzisse e assim ele conseguiria se livrar das pressões.

Realmente, era um maluco de vassoura na mão.


João Goulart assume, e com ideias como as reformas de base logo lhe cai o discurso do mar de lama, acrescido do querer instalar uma república sindicalista.

O resultado foi golpe militar de 64.

Essa é a tática das elites brasileiras desde sempre no Brasil. E à medida que o veículos de comunicação foram se tornando verdadeiramente de massas, piorou.

Esse discurso se dá de forma mais sutil ou explícita. Depende do momento e de quem o faz.

Assim como as técnicas de comunicação se aperfeiçoaram, o discurso do mar de lama também.

De 2003 pra cá, anos em que o PT está a frente do governo federal, o discurso do mar de lama é de fazer inveja a Carlos Lacerda, principal expoente da antiga UDN no Brasil.

As política de desenvolvimento com inclusão social, ampliação da democracia, inclusive com maior divisão dos recurso de publicidade estatal através de um maior número de veículos de comunicação. Até 2002 eram apenas 499 os veículos que recebiam verba de publicidade, hoje mais de 4000.

Por mais que a Globo ainda seja quem mais receba, a autoproclamada grande imprensa, hoje, recebe bem menos. Mesmo, como foi publicado recentemente, recebendo uma fatia demasiada grande e os “blogueiros sujos”, migalhas. O que desconstrói a tese de militância virtual paga feita pelo Partido da Imprensa Golpista – PIG.

Se a forma do discurso do mar de lama sofisticou-se junto com a comunicação no Brasil, o mesmo não dá pra dizer sobre a relação de poder da imprensa hoje. Continua a mesma coisa. Manda fazer e desfazer. Ninguém quer aparecer em uma matéria ruim ou lhe ter algum “carimbo” negativo imposto por ela na testa.

Mas a Veja tem perdido a linha de forma descomunal. Perdeu a vergonha mesmo. Como já disse outras vezes, é apenas uma coisa feita em papel couché.

Veja divulgou em capa – e suas capas são a marca registrada da revista – uma entrevista com Marcos Valério, o “banco” do suposto “mensalão” do PT e do PSDB. Claro que a entrevista é sobre o do PT e para incriminar Lula. Ainda mais com o julgamento do processo de 50 mil páginas sem provas acontecendo no STF.

A própria revista confirmou – dentro, no texto – que a entrevista foi feita com pessoas próximas a Valério e não com o próprio. Numa confusão inigualável, Veja, após o desmentido de Valério através de seu advogado, afirmou ter a fita da entrevista com Marcos Valério.

Mas ela mesma confirmou na revista que não entrevistou Valério. Pense numa publicação de palavra.

Ricardo Noblat logo assumiu o papel que melhor cumpre no momento que é o de defender as indefensáveis posturas da grande imprensa. Mas até ele em alguns momentos sucumbiu à verdade e chegou a cobrar em seu perfil no twitter a divulgação da fita de Veja.

Essa fita é que nem pé de cobra, quem vê, morre.

Na verdade, se houve alguma entrevista, essa foi com alguém que disse alguma coisa sobre não se sabe quem que teria dito sabe-se lá o quê.

Tudo isso para golpear Lula. Impedi-lo de disputar eleições futuras. O PSDB, o DEM e o PPS já disseram que vão cobrar investigações sobre Lula e que ele deveria desmentir a entrevista que não existiu.

É como desmentir a existência de Papai Noel.

Junta-se a isso a eminente derrota de Serra em São Paulo, a máscara de Veja caída com suas relações com o bicheiro Cachoeira escancaradas e a direita sem nome e sem agenda para o país, o que sobra?

O discurso do mar de lama. Tudo isso agora é pra tentar condenar Lula, em primeira instância mesmo. Assim cairia na Lei da Ficha Limpa.

Essa é a tese golpista.

Vê se pode. Sérgio Guerra, anão do orçamento no governo Collor é ficha limpa. Essa Lei é mais perfumaria do que aparenta, mas esse é outro debate.

Como a direita está aos frangalhos e o julgamento do suposto “mensalão” no STF só interessa a uma esmagadora minoria do povo, vão, por sobrevivência, para o tudo ou nada.

Sempre no discurso do mar da lama.

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