quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Entrar pra História


De hoje 03 de agosto, até setembro de 2012, viveremos dias de intensos debates políticos. Não necessariamente qualificados, mas bastante intensos. Não somente por conta do período eleitoral, isto que por si só já acalora os debates sobre concepção de sociedade. Me refiro aos ingredientes extras.

Um que surge no roteiro por conta de um “acaso”. Não fosse a Operação Monte Carlo da Polícia Federal para desvendar as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com “figurões” da política e da imprensa nacional, não teríamos a CPMI (ou só CPI, como é chamada popularmente) do Cachoeira.

Comissão que já ocasionou a cassação de Demóstenes Torres (ex-DEM). O baluarte da ética e queridinho de plantão de Veja, Globo, Folha, Estadão... Toda a patota da grande imprensa. A Monte Carlo também revelou que o editor-chefe de Veja em Brasília, Policarpo Júnior, mantinha relações mais que íntimas com o bicheiro (e não empresário, como insiste a Folha). Dessa relação saíram diversas matérias para atender aos interesses de Cachoeira e da grande imprensa, assumida e ferrenha opositora aos governos de Lula e Dilma.

Até a esposa do Cachoeira foi presa ao tentar chantagear o juiz do caso com um dossiê feito por Policarpo Júnior. Policarpo irá depor na CPI do Cachoeira.

A outra é orquestrada pela grande imprensa e os poderosos setores conservadores do país. Trata-se do julgamento do suposto “mensalão”. Não que com o processo judicial aberto o mesmo não devesse ir a julgamento, não é isso.

É sim o fato deste ser um processo de 2005 e termos um dos anos 90 em Minas Gerais. Neste estão envolvidos além do governador do estado na época, o hoje senador, Eduardo Azeredo, como também o então membro da AGU e hoje ministro do STF, Gilmar Mendes. Até FHC, que era Presidente da República na época recebeu, em 98, mais de R$ 500 mil. Todas as denúncias publicadas originalmente da revista CartaCapital. Eles receberam R$ 4,5 milhões, R$ 185 mil e R$ 573 mil, respectivamente.

Por que o que tem o PT como partido central é julgado primeiro, se o do PSDB é mais antigo?

Sem falar da lista de FURNAS, cujo o Ministério Público de Minas Gerais apresentou denúncia. Ou seja, vai virar processo judicial. Nesse esquema, FURNAS mantinha financeiramente os caciques do PSDB. De Aécio a FHC. Não sobrou uma pena de um tucano sequer sem receber a mesada.

Nada sai na grande imprensa.

Falam que o suposto “mensalão” é o maior esquema de corrupção do país. Será?

A própria imprensa diz que o esquema teria desviado perto de R$ 100 milhões. Só em Alagoas, foi descoberto pela Operação Taturana da Polícia Federal um desvio de R$ 300 milhões da Assembleia Legislativa. Três vezes maior.

Outra informação ocultada é que em 50 mil páginas de processo do suposto “mensalão” não há uma prova sequer contra quem quer que seja. Sequer que o esquema existiu.

É uma invenção da grande imprensa que aproveitou um rompante do então deputado federal Roberto Jeferson. Este, desesperado por uma denúncia feita, inclusive, pela parceria cachoeira / imprensa sobre corrupção nos Correios no fim do governo FHC, atacou pra se salvar. Segundo ele próprio já, em juízo inclusive, afirmou. Nunca existiu mensalão.

Mas isso não passa no Jornal Nacional, nem é capa de Veja ou manchete na Folha.

Implicitamente a grande imprensa reconhece não haver provas. Ou seja, não ter havido o esquema. Tanto que lança mão de editoriais defendendo julgamento políticos. Ignorar a falta de provas, ignorar os autos do processo. “Ouvir a opinião pública”, como disse o FHC.

Ele quis dizer publicada.

Condenar sem provas. Julgamento político. Mas isso não é coisa das ditaduras?

Está o Brasil em Estado exceção?

É mais do que evidente que a direita brasileira perdeu as estribeiras.

Não tem agenda, não tem nomes e o suposto “mensalão” é seu último sopro de discurso moralista.

E como o julgamento vai render até setembro. Vão tentar, via espetacularização da informação, desvirtuar o debate político durante as eleições. Basta vermos as “novelinhas” a cada telejornal da Globo, por exemplo.

Ainda tem a questão de Gilmar Mendes, Toffoli e Gurgel.

Argumentam que Toffoli não pode participar do julgamento por ter sido advogado do PT antes de ser ministro do Supremo. Pois bem, e o Gilmar?

Tem denúncia nova de recebimento de propina. Já denunciou áudio sem grampo, já acusou Lula de tentar pressioná-lo sobre este julgamento. Num encontro a três. Dois desmentem Gilmar. Mas adivinhem quem a grande imprensa deu ouvidos.

Gurgel é Procurador Geral da República. Acusado de prevaricar na Operação Vegas, anterior à Monte Carlo. Conhece os autos do processo. Conhece a denúncia feita por seu antecessor, sabe que não há provas, mas insiste em repetir a ladainha da mídia.

Se Toffoli está sob suspeição. Gilmar e Gurgel também. Especialmente, Gilmar.

E nesse meio tempo, e desde que se soube da entrada em pauta, fala-se em julgamento histórico.

Vi até falarem que o Ayres Brito, presidente do STF, só topou fazer esse julgamento no período eleitoral por estar perto de se aposentar e querer entrar pra História.

Julgamento histórico fez o povo brasileiro ao reeleger Lula em 2006. Um ano depois de estourar as denúncias do suposto “mensalão”. Isso pra não falar da força política que se tornou o ex-presidente Lula ou a eleição de sua sucessora, Dilma Rousseff.

Ayres Brito pode entrar para a História. Ou como o Presidente do Supremo que fez valer a autoridade da instituição, mantenedora da confiança de boa parte dos brasileiros, e expurgar a pressão da mídia ou entrar pra História como o Presidente do Supremo que, às portas de ir embora, deixou a grande imprensa passar a mão em seu traseiro.

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